sábado, 12 de janeiro de 2013

Modernismo


O Manifesto Antropofágico e o Modernismo foram  movimentos que renovaram o panorama das artes no Brasil nas primeiras décadas do século XX.
A arte que ilustra a capa do catálogo da semana é de Di Cavalcanti



  • Considera-se a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. Foi marcado, sobretudo, pela liberdade de estilo e aproximação com a linguagem falada.

  • Sob o signo da vaia foi, assim, introduzida no Brasil a Arte Moderna, isto é, as novas idéias e os novos conceitos que, naquele momento, estavam fervilhando, ou que já haviam fervilhado, na Europa, principalmente na luminosa Paris da belle époque.


Em 1928, Oswald lança a Antropofagia, revista que publica o famoso Manifesto Antropofágico, datado do "Ano 374 da deglutição do Bispo Sardinha". Ele propunha:

► alimentar-se de tudo o que o estrangeiro traz para o Brasil, sugar-lhe todas as idéias e uni-las às brasileiras, realizando assim uma produção artística e cultural rica, criativa, única e própria. 

► desvincular-se de laços passados, como o simbolismo, ainda fortemente presente naquela época.



  • O nome do manifesto recuperava a crença indígena: os índios antropófagos comiam o inimigo, supondo que assim estavam assimilando suas qualidades.
  • Neste mesmo ano, Tarsila do Amaral, sua mulher, pinta o famoso quadro "O abaporu“ (aba = homem; poru = que come), isto é, o antropófago, e o lema cunhado por Oswald, Tupy or not tupy, that is the question vira emblema da luta antropofágica.
  • O movimento antropofágico defende  uma espécie de projeto de resistência às  incorporações feitas sem o devido senso crítico.
  • A proposta era “devorar” a cultura e técnicas estrangeiras e submetê-las a uma digestão crítica em nosso estômago cultural, de forma assimilá-las ou ainda vomitá-las, se fossem consideradas impróprias ou indesejáveis.
  • O que basicamente propunha a Antropofagia era uma volta às origens, a fim de se buscar na natureza e na pureza do homem primitivo um modo de viver. 
  • Tratava-se, especificamente, de uma crítica à civilização européia, representada pelo colonizador português, de uma volta à felicidade idílica de um Brasil pré-cabralino, onde o homem viveria livre da civilização e da religião que lhe foram impostas pelo colonizador. 
  • Entretanto, o grande problema da Antropofagia foi propor a volta ao homem em estado natural, o retorno a um homem idealizado pelo conhecido e romântico mito do bom selvagem, de Rousseau e Montaigne, mas sem que se deixasse de lado o progresso que a civilização moderna mostrava e que tanto nos encantava. A isso tudo, dever-se-iam acrescentar as novidades do pensamento freudiano, então já bastante em voga.

1922 a 1930 - 1ª Fase Modernista 
Tentativa de definir e marcar posições
Características:
  • Rompimento  com  todas  as  estruturas  do  passado, necessidade de definição.
  • Caráter anárquico => sentido destruidor. 
  • Manifestação do nacionalismo  => volta às origens,  à pesquisas  de  fontes  quinhentistas,  procura  de  uma
  • “língua brasileira”,  as  paródias, valorização  do  índio verdadeiramente brasileiro.
  • Final da década de 20 -   postura  que  apresenta  duas vertentes distintas:
    • Nacionalismo crítico (denúncia da realidade brasileira/ frente da esquerda)
    • Nacionalismo ufanista (utópico e exagerado - extrema direita).

Os Sapos - Manuel Bandeira

Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 

Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 

Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 

O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 

Vai por cinquüenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 

Clame a saparia 
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 

Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 

Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 

Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 

Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 

Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 

Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...


Pronominais - Oswald de Andrade

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro 

Jorge Schwartz. Oswald de Andrade: seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico. São Paulo: Abril Educação, 1980, p. 22-3.

(Encceja – 2006 adaptado) O texto mostra os diferentes usos da língua portuguesa. Depois de lê-lo, concluímos que:

a) a gramática do aluno é a mesma do bom branco da Nação Brasileira.
b) a gramática usada pelo professor mostra a língua falada pelo brasileiro.
c) o bom negro fala diferente do que a gramática manda.
d) o mulato sabido fala como o bom negro.
e) o poema tenta mostrar que o bom negro e o bom branco seguem a gramática.

Resposta:

c) o bom negro fala diferente do que a gramática manda.


  • A busca de uma língua brasileira: desprezando o rigor das regras gramaticais, aproximam a língua literária escrita da língua falada pelo povo brasileiro.
"A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil"

“Homo Brasiliensis”
O homem
É o único animal que joga no bicho.
"Teorema das Compensações"
O bicheiro é vereador.
Depende do presidente
Da Câmara Municipal.
O presidente é meio pobre,
Arrisca sempre na sorte,
Ai! depende do bicheiro. 
O bicheiro ganha sempre
Na eleição pra vereador.
E “seu” presidente acerta
Muitas vezes na centena.


“Não vim no mundo para ser pedra”. 
A pedra simboliza disciplina rígida, método, lapidação de caráter, traços que Macunaíma, a própria encarnação da esperteza e da improvisação, nunca quis assumir.    
                                                                        Macunaíma, Mário de Andrade

Questão 15

Texto I
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
(...)
ANDRADE, C. D. Reunião. Rio de Janeiro: José Olympo, 1971 (fragmento).
Texto II
As lavadeiras de Mossoró, cada uma tem sua pedra no rio: cada pedra é herança de família, passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando as águas no tempo (...) A lavadeira e a pedra formam um ente especial, que se divide e se reúne ao sabor do trabalho. Se a mulher entoa uma canção, percebe-se que nova pedra a acompanha em surdina...
(...)
ANDRADE, C. D. Contos sem propósito. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, Caderno B. 17/7/1979 (fragmento)

Com base na leitura dos textos, é possível estabelecer uma relação entre forma e conteúdo da palavra “pedra”, por meio da qual se observa:

(A) o emprego, em ambos os textos, do sentido conotativo da palavra “pedra”.
(B) a identidade de significação, já que nos dois textos, “pedra” significa empecilho.
(C) a personificação de “pedra” que, em ambos os textos, adquire características animadas.
(D) o predomínio, no primeiro texto, do sentido denotativo de “pedra” como matéria mineral sólida e dura.
(E) a utilização, no segundo texto, do significado de “pedra” como dificuldade materializada por um objeto.

Resposta:
(B) a identidade de significação, já que nos dois textos, “pedra” significa empecilho.


O cortejo - Mario de Andrade

Monotonias das minhas retinas...
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...
Todos os sempres das minhas visões! 
"Bom giorno, caro.

" Horríveis as cidades!
Vaidades e mais vaidades...
Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!
Oh! Os tumultuários das ausências!
Paulicéia - a grande boca de mil dentes;
e os jorros dentre a língua trissulca de pus e de mais pus de distinção...
Giram homens fracos, baixos, magros...
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...

Estes homens de São Paulo,
Todos iguais e desiguais,
Quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,
Parecem-me uns macacos, uns macacos.


Canto de regresso à pátria - Oswald de Andrade

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo


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